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A história da francesa que se encantou pelo Rio e criou a expressão 'Cidade Maravilhosa'

‘Cidade Maravilhosa’: livro conta história da poeta francesa que criou expressão Tem gente que pensa que tudo começou com a marchinha de carnaval de Andr...

A história da francesa que se encantou pelo Rio e criou a expressão 'Cidade Maravilhosa'
A história da francesa que se encantou pelo Rio e criou a expressão 'Cidade Maravilhosa' (Foto: Reprodução)

‘Cidade Maravilhosa’: livro conta história da poeta francesa que criou expressão Tem gente que pensa que tudo começou com a marchinha de carnaval de André Filho, consagrada por Aurora Miranda que virou o hino oficial do Rio, mas a origem da expressão "Cidade Maravilhosa" é mais antiga e fruto da imaginação lírica de uma poeta francesa. Jane Catulle Mendès visitou o Rio de Janeiro, em 1911, em plena Belle Époque. Conheceu o Rio recém-reformado por Pereira Passos e veio à cidade com dois propósitos: proferir conferências sobre a mulher francesa e passear. Acabou se apaixonando logo na chegada, e dois anos depois lançou o livro "La Ville Merveilleuse", com poemas sobre sua passagem que seria de duas semanas e durou três meses. Os bastidores dessa viagem histórica são reconstituídos mais de cem anos depois pelo jornalista e pesquisador Rafael Sento Sé, que lançou este mês o livro "A poeta da Cidade Maravilhosa". Madame Catulle Mendès, como era chamada pelos jornais da época, caiu no esquecimento, mas nem sempre foi assim. "Jane foi numa das personagens mais célebres da Belle Époque, sua vida era acompanhada com tanto interesse pelos jornais que, passados mais de um século, consegui reconstituir os bastidores da viagem ao Rio e sua vida mirabolante em Paris", conta Rafael Sento Sé ao g1. A descoberta da história da francesa se deu durante pesquisas de Sento Sé para o blog que criou para o aniversário de 450 anos do Rio, celebrado em 2015. “Na época eu falei: ‘ah, vou atrás de pesquisar essa mulher e o post do blog vai ter que esperar’. Eu encontrei um tesouro, em 100 anos ninguém contou a história dessa mulher”, relembra. “Ela era tão famosa que passados mais de 100 anos eu consegui reconstituir a vida dela e a viagem que ela fez ao Rio em detalhes sem ter entrevistado ninguém, só recorrendo às notícias dos jornais antigos e a alguns livros. Ela era uma celebridade na época.” Jornalista lança livro sobre história da poeta francesa que se encantou pelo Rio e criou apelido Divulgação/Autêntica Jane era uma figura proeminente no cenário literário francês e uma mulher à frente de seu tempo, conta Sé. “Ela também se considerava muito sensitiva. Tem um poema no final do livro dela que ela está com aquele sentimento nostálgico e mesmo sem ter ido embora começa a imaginar: ‘daqui a 100 anos, como será? Como meu livro vai ser lido?’. E, em outro poema, ela fala que ‘daqui a muito tempo, um jovem de olhos negros vai ler o meu livro." “Quando eu li esse poema pela primeira vez, tava fazendo 100 anos da publicação do livro, e eu e falei: ‘Gente, ela tá descrevendo o que eu estou fazendo’. Quem estaria lendo um livro que é raro, não é fácil de encontrar, não tem na Amazon?” Jornalista lança livro sobre história da poeta francesa que se encantou pelo Rio e criou apelido Divulgação/Autêntica A admiração que Jane teve pela cidade culminou na criação da expressão que foi incorporada ao Rio. A expressão foi dita por ela, inicialmente, ao assistir ao pôr do sol ainda a bordo do navio que a trouxe. Em "La Ville Merveilleuse", publicou 33 poemas que revelam seu encantamento pela cidade. Inédito até hoje em português, o livro de Rafael Sento Sé apresenta também a tradução desses versos. Jornalista lança livro sobre história da poeta francesa que se encantou pelo Rio e criou apelido Divulgação/Autêntica Chá das 5 ou coletiva de imprensa? Ainda nos primeiros dias no Rio, convidou jornalistas para um chá no Hotel dos Estrangeiros — gesto pioneiro que se assemelha a uma coletiva de imprensa. “Quando ela chega no Rio, ela convoca um 'chá das 5', que é uma coisa da época, e convida os jornalistas para esse chá das 5 no hotel onde ela ficou hospedada. Eu que sou da área falei: ‘isso é uma coletiva de imprensa’. Eu escrevo no livro que até que se prove o contrário, foi a primeira coletiva de imprensa feita no Rio”, conta. Até o presidente Hermes da Fonseca e ministros brasileiros participaram de um desses "chás". Guerra, vanguardas e falta de crédito Jane Catulle Mendès nasceu em 1867 e morreu em 1955 – há exatos 70 anos. Na França, já se destacava por escolhas ousadas. Trabalhou em um jornal inteiramente produzido por mulheres, uma raridade para o período. O apagamento gradual da poeta outrora célebre, argumenta o autor, pode ser atribuído a uma certa dose de misoginia, mas não apenas a isto. “Logo depois de lançar o livro em 1913, estoura a 1ª Guerra, que reconfigura o mundo como se conhecia e ganham força as vanguardas artísticas que tinham como essência renegar tudo o que se tinha produzido até aquele momento. Aqueles poemas com métrica rigorosa e rimas caiu em desuso", explica o autor de "A poeta da Cidade Maravilhosa". “Mostro que entre o lançamento do livro de Jane e a criação da marcinha de carnaval, outras manifestações culturais foram batizadas com nome de cidade maravilhosa. Nenhuma delas deu o crédito à Jane, apesar da repercussão de 'La ville mereilleuse' ter sido enorme.". Jornalista lança livro sobre história da poeta francesa que se encantou pelo Rio e criou apelido Divulgação/Autêntica