Brasil elimina transmissão vertical do HIV e registra queda na Aids e na mortalidade, mas novos casos do vírus têm leve alta, aponta boletim de 2025
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Brasil registra queda na aids e na mortalidade, mas tem estabilidade com leve alta em novos casos de HIV, aponta boletim de 2025 Adobe Stock O Brasil registrou redução nos casos de aids e na mortalidade pela doença em 2024, ao mesmo tempo em que teve uma leve alta no número de novas infecções por HIV. Os dados são do Boletim Epidemiológico HIV e Aids 2025, divulgado pelo Ministério da Saúde e que marca os 40 anos da resposta nacional ao vírus. Segundo o documento, o país contabilizou 39.216 detecções de HIV em 2024, o equivalente a 18,4 casos por 100 mil habitantes, um pouco acima dos 38.222 registros de 2023. Já os casos de aids tiveram queda de 1,5%, passando de 37.527 para 36.955. A mortalidade caiu ainda mais: 12,8%, chegando a 9.157 óbitos, o menor valor da série histórica, com taxa de 3,4 mortes por 100 mil habitantes. Os dados são resultado, segundo o Ministério da Saúde, da ampliação da testagem, do início precoce da terapia antirretroviral, da supressão viral e da maior retenção em cuidado. Mas o boletim alerta: persistem desigualdades — regionais, raciais, de gênero e de faixa etária — além de falhas no diagnóstico oportuno e na linha de cuidado materno-infantil. O Ministério da Saúde aponta que o país vive um momento de avanços, sustentado também pela prevenção combinada — incluindo PrEP (profilaxia-pré-exposição), que segue em expansão. O boletim também evidencia que a melhora dos indicadores nacionais não se distribui de forma igual entre as regiões, faixas etárias e grupos sociais. Para especialistas, o desafio agora é ampliar o diagnóstico precoce, garantir vínculo e retenção no cuidado e reduzir as perdas em etapas críticas — especialmente no pré-natal e no acompanhamento de crianças expostas. Enquanto mira a certificação da eliminação da transmissão vertical, o Brasil tenta consolidar os resultados e superar desigualdades históricas na resposta ao HIV. ‘Pior do que viver com HIV é não saber que vive com o vírus’, alerta infectologista 40 anos de resposta e nova estimativa histórica Pela primeira vez, o governo apresenta uma estimativa cumulativa de pessoas vivendo com HIV e aids desde o início da epidemia: 1.679.622 brasileiros entre 1980 e setembro de 2025. A maior parte deles reside no Sudeste (47,3%), seguido por Sul (19%), Nordeste (18,5%), Norte (8,3%) e Centro-Oeste (6,8%). São Paulo concentra sozinho 433 mil registros, o equivalente a 25,8% do total. A publicação também traz uma inovação metodológica: a integração das bases Sinan, Siscel, Siclom e SIM, filtrada pelo Censo 2022. O cruzamento permitiu reprocessar a série histórica, reduzir duplicidades e reconstruir tendências com maior precisão. Novas infecções por HIV: jovens, homens e desigualdade racial Em 2024, homens representaram a maioria dos novos diagnósticos, especialmente entre 20 e 29 anos, que concentraram 44,7% dos casos masculinos. O levantamento aponta que 66% das infecções entre jovens de 15 a 24 anos atingiram homens — faixa que tem registrado vulnerabilidade crescente na última década. Outro dado marcante é o envelhecimento da epidemia: pessoas com 50 anos ou mais registraram aumento proporcional nas infecções, sobretudo mulheres, cujo percentual passou de 10,9% em 2014 para 17% em 2024. A desigualdade racial também se evidencia. Negros (pretos e pardos) correspondem a 59,7% das novas infecções no país, enquanto brancos somam 36,8%. Entre mulheres, o recorte é ainda mais acentuado: 62,5% dos casos ocorreram em negras. As maiores taxas de detecção (casos por 100 mil habitantes) foram registradas nas regiões: Norte (25,3) Centro-Oeste (20,2) Sul (19,6) Entre as capitais, os índices mais altos foram: Florianópolis (49,4) Manaus (49,2) Boa Vista (47,6) Natal (46,9) Belém (44,8) Gestantes e transmissão vertical: redução, mas com alerta O documento aponta uma redução de 7,9% no número de gestantes com HIV em 2024, que totalizaram 7.523 casos. A taxa nacional permaneceu estável em 3,2 por 1.000 nascidos vivos. A queda reforça o pleito do Brasil para obter certificação internacional de eliminação da transmissão vertical do HIV como problema de saúde pública. Contudo, as desigualdades persistem. Onde estão as maiores taxas Estados com índices acima da média nacional em 2024 incluem: Rio Grande do Sul (7,4/1.000 NV) Roraima (6,1) Rio de Janeiro (5,8) Santa Catarina (5,0) Capitais com piores indicadores: Porto Alegre (14,9) Florianópolis (10,0) Desigualdade racial dupla A taxa entre gestantes pretas (5,6 por 1.000 NV) foi 108% maior que a observada entre brancas (2,7). Entre pardas, foi 14% maior. Diagnóstico tardio e falhas no cuidado Embora 90% das gestantes tenham feito pré-natal, apenas 72,4% usaram antirretrovirais — abaixo da meta de 95% para eliminação da transmissão vertical. E 6% só descobriram o HIV durante ou depois do parto, etapa crítica para prevenção. O boletim também mostra falhas no preenchimento e atualização das fichas de notificação, com mais de 2.500 gestantes sem registro do desfecho da gravidez — o que afeta o monitoramento das crianças expostas. Crianças expostas ao HIV: queda, mas inconsistências preocupam Foram notificadas 6.819 crianças expostas ao HIV em 2024, redução de 4,2% em relação ao ano anterior. Mas a comparação entre gestantes e bebês expostos revela inconsistências importantes. Algumas unidades federativas registraram mais crianças expostas que gestantes notificadas, como Tocantins e Amapá — indício de falha no vínculo mãe-bebê e na vigilância. Em outras, como Roraima, Amazonas e Bahia, o número de bebês ficou abaixo do esperado. A profilaxia com antirretrovirais no recém-nascido — recomendada logo após o parto — atrasou em 63 casos e simplesmente não ocorreu em 170. Ainda assim, houve avanço: o início tardio caiu 54% entre 2023 e 2024. Casos de aids: tendência de queda Desde 1980, o Brasil registrou 1.165.533 casos de aids. Em 2024, a taxa nacional ficou em 17,4 por 100 mil habitantes, caindo 12,6% em uma década. As maiores taxas foram observadas em: Roraima (41,3) Amazonas (35,2) Amapá (28,4) Pará (27,4) Entre as capitais, Belém (57,5), Manaus (53,4) e Porto Alegre (52,6) lideraram os índices. Mortalidade: queda expressiva e menor taxa já registrada Com 9.157 óbitos em 2024, a mortalidade por aids caiu 12,8% em um ano, alcançando a menor taxa da série: 3,4 por 100 mil habitantes. Desde 1980, já são 402.300 mortes pela doença no país.