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Grupo Refit usava cerca de 50 fundos de investimento para ocultar bilhões em sonegação, aponta Receita Federal

Megaoperação contra sonegação de impostos e lavagem de dinheiro mira o Grupo Refit A operação Poço de Lobato, deflagrada nesta quinta-feira (27), revelou...

Grupo Refit usava cerca de 50 fundos de investimento para ocultar bilhões em sonegação, aponta Receita Federal
Grupo Refit usava cerca de 50 fundos de investimento para ocultar bilhões em sonegação, aponta Receita Federal (Foto: Reprodução)

Megaoperação contra sonegação de impostos e lavagem de dinheiro mira o Grupo Refit A operação Poço de Lobato, deflagrada nesta quinta-feira (27), revelou que o Grupo Refit estruturou uma rede com cerca de 50 fundos de investimento para esconder bilhões de reais oriundos de um sofisticado esquema de sonegação e lavagem de dinheiro no mercado de combustíveis. Segundo a Receita Federal, os fundos — muitos registrados no exterior, incluindo o estado norte-americano de Delaware — eram usados para blindar patrimônio, disfarçar lucros ilícitos e dificultar o rastreamento das movimentações financeiras. A Receita identificou inicialmente 17 fundos ligados ao grupo, que somam patrimônio líquido de R$ 8 bilhões. Porém, ao aprofundar as análises, descobriu que o número real chegava a cerca de 50 fundos. A organização utilizava alguns Fundos de Investimento em Participações (FIPs) e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). O órgão não passou o nome de todos os fundos. “Em sua maioria, eram fundos fechados com um único cotista, geralmente outro fundo, criando camadas de ocultação”, afirmou a Receita em nota. Segundo a investigação, administradoras financeiras teriam colaborado com o esquema ao omitir informações aos órgãos de controle. O dinheiro sonegado era reinvestido em negócios, imóveis e na própria cadeia do setor, o que, segundo os investigadores, dificultava a identificação dos beneficiários finais. Para isso, de acordo com a investigação, grupo também utilizava empresas próprias e empresas offshores em paraísos fiscais (criadas no exterior e em local livre de impostos) para ocultar lucros e, assim, blindá-los, além dos fundos de investimento. Dessa forma, de acordo com a Receita, a Refit movimentou mais de R$ 70 bilhões em apenas um ano. 🔍Um paraíso fiscal é um território que cobra pouco ou nenhum imposto e oferece alto sigilo sobre quem é dono do dinheiro. Na prática, funciona como um endereço usado para pagar menos tributos e dificultar o rastreamento de recursos. Com regras flexíveis e pouca transparência, esses locais permitem abrir contas, empresas e fundos com facilidade — o que pode servir tanto para planejamento financeiro legal quanto para ocultar patrimônio ou facilitar fraudes e lavagem de dinheiro. Maior devedor de ICMS Os investigadores afirmam que o grupo, comandado pelo empresário Ricardo Magro, movimentou mais de R$ 70 bilhões em apenas um ano, utilizando empresas próprias, importadoras, formuladoras, distribuidoras, postos de gasolina e offshores conectadas ao conglomerado. A Refit, antiga Refinaria de Manguinhos (RJ), é considerada o maior devedor de ICMS de São Paulo, o segundo maior do Rio e um dos maiores da União. A defesa não havia se manifestado até a publicação desta reportagem. Em setembro, a Refit emitiu um posicionamento ressaltando que, em décadas de trabalho, sempre esteve alinhada ao compromisso com a qualidade dos combustíveis e afirmou que “jamais atuou como empresa de fachada” (leia nota completa abaixo). A reportagem não conseguiu informações da Refit nesta quinta-feira (27). Com sede no Rio de Janeiro, a Refit possui atuação nacional. As buscas nesta quinta aconteceram no Rio, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal. 👉 Comandado pelo empresário Ricardo Magro, o grupo é considerado o maior devedor de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias ou Serviços) do estado de São Paulo, o segundo maior do Rio e um dos maiores da União. Em resumo, a fraude fiscal funcionava assim, segundo os promotores: no centro do esquema, estava a refinaria. Ao redor, uma rede de colaboradores dividida entre diferentes núcleos: internacional (com empresas no exterior), de tecnologia e jurídico, além de fintechs e bancos, distribuidoras e postos de gasolina. O objetivo, de acordo com investigadores, era beneficiar um núcleo familiar. Como o processo corre sob sigilo, o nome de nenhuma empresa investigada foi divulgado. Em entrevista à imprensa ao lado de diversas autoridades, o promotor de Justiça Alexandre Castilho afirmou que não foi detectada a presença da atuação de facções. Do porto aos postos Dinheiro apreendido em escritório na Alameda Santos, durante megaoperação contra o Grupo Refit Reprodução As fraudes da Refit começaram, de acordo com a Receita, quando as importadoras adquiriam gasolina como sendo outros derivados do petróleo com impostos mais baixos. Entre 2020 e 2025, foram importados mais de R$ 32 bilhões em combustíveis pelos investigados. Na Operação Cadeia de Carbono, foram retidos quatro navios da Refit que continham 180 milhões de litros de combustível. A partir desta operação, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) interditou a refinaria após constatar diversas irregularidades: Suspeita de importação com declaração falsa, pois a gasolina importada era declarada como derivados de petróleo; Ausência de comprovação do processo de refino; Indícios de uso de aditivos químicos não autorizados alterando a característica do produto. Em 27 de outubro, a Justiça do Rio de Janeiro decidiu reabrir a empresa. Dois dias depois da reabertura, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou uma nova interdição da Refit. A decisão é do presidente do STJ, Herman Benjamin. Além das importadoras, a Receita constatou sonegação e fraudes nas outras etapas do processo até o combustível chegar aos postos de gasolina: Formuladoras - São empresas autorizadas pela ANP para a produção de gasolina e de óleo diesel por meio da mistura de produtos. As formuladoras não refinam petróleo, mas adquirem componentes de refinarias e de importadores e que cuidam do processo até atingir o nível definido como ideal pela ANP. Distribuidoras - Cuidam da etapa logística de armazenar e transportar para os postos de venda os combustíveis. Essa etapa do processo também é regulada pela ANP, que monitora preços e garante a qualidade dos produtos. Postos de combustível - Assim como os formuladores e distribuidoras, os postos têm seus valores, segundo a Receita, sonegados pela Refit. O dinheiro lucrado com a sonegação era investido em negócios, propriedades e fundos de investimento que davam aparência de legalidade e dificultavam o rastreamento pelos órgãos de controle. A Refit criou várias empresas e abriu fundos, vários em paraísos fiscais, incluindo no estado americano de Delaware (que oferece benefícios para empresas), para dificultar a identificação de quem eram os verdadeiros destinatários finais. Também havia a substituição permanente de sócios dessas empresas para atrapalhar o rastreio do dinheiro. A Receita identificou inicialmente 17 fundos ligados ao grupo, que somam patrimônio líquido de R$ 8 bilhões. No entanto, depois se constatou que eram cerca de 50 fundos. "Em sua maioria, são fundos fechados com um único cotista, geralmente outro fundo, criando camadas de ocultação. Há indícios de que as administradoras colaboraram com o esquema, omitindo informações à Receita Federal", informou a Receita em nota. A operação foi deflagrada pelo Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos do Estado de São Paulo (Cira-SP) e conta com a participação da Receita Federal, Ministério Público de São Paulo, Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de SP, Secretaria Municipal de Fazenda de SP, Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, Procuradoria-Geral do Estado de SP e polícias Civil e Militar. Ricardo Magro: quem é o empresário à frente da Refit, alvo de megaoperação que apura fraudes no mercado de combustíveis Haddad vê lavagem de dinheiro do crime organizado usando empresas dos EUA, contrabando de armas ao Brasil e pede parceria Sede da Refit, em Benfica, na Zona Norte do Rio Divulgação/Receita Federal O que diz a refinaria A reportagem não conseguiu informações da Refit nesta quinta-feira (27). Em setembro, a Refit emitiu um posicionamento ressaltando que, em décadas de trabalho, sempre esteve alinhada ao compromisso com a qualidade dos combustíveis. Leia a íntegra: "Foi com surpresa e indignação que a Refit recebeu a notícia da interdição das atividades da sua refinaria localizada no Rio de Janeiro. Apesar de todos os esclarecimentos prestados à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) durante o processo de inspeção feita pelos fiscais, a administração da companhia não teve acesso às condicionantes estabelecidas pela ANP para a retomada regular das operações. A Refit esclarece que jamais atuou ou opera como empresa de fachada para atividades ilegais e possui histórico comprovado de atividades legítimas no mercado. A companhia emprega atualmente 2.500 funcionários, com a produção de 17.303 mil barris/dia, volume limitado e auditado pela ANP. Em 2019, a mesma agência autorizou a Refit a ampliar a capacidade de refino e, desde então, a empresa vem realizando investimentos na ampliação e modernização da fábrica de modo alcançar, no curto prazo, a produção de 22.300 mil barris/dia. A Refit se orgulha de ser a primeira refinaria a desenvolver e produzir combustível aditivado de série e de se antecipar às novas especificações na produção de gasolina com alta octanagem (RON 93). A companhia possui a certificação ISO 9001:2015, que comprova a qualidade de seus processos e os rigorosos mecanismos de controle em sua cadeia de distribuição a fim de impedir que seus produtos sejam adulterados ou mesmo comercializados por estabelecimentos comandados por facções criminosas. Tão logo tenha acesso à notificação oficial de interdição, a empresa demonstrará nos autos do processo administrativo da ANP que todas as condicionantes sempre estiveram atendidas, não havendo justificativa razoável para a paralisação total de suas atividades. A Refit também não medirá esforços para reverter a decisão arbitrária de suspensão de suas operações e seguir sua trajetória de crescimento acelerado no mercado, que tanto tem incomodado a concorrência".