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Mãe diz que vai mudar de casa após filho ter dedos decepados em escola de Portugal: 'Vou ter que reconstruir minha vida por xenofobia'

Criança brasileira tem dois dedos decepados em escola de Portugal Nívia Estevam, de 27 anos, passou os últimos dias denunciando nas redes sociais que seu fil...

Mãe diz que vai mudar de casa após filho ter dedos decepados em escola de Portugal: 'Vou ter que reconstruir minha vida por xenofobia'
Mãe diz que vai mudar de casa após filho ter dedos decepados em escola de Portugal: 'Vou ter que reconstruir minha vida por xenofobia' (Foto: Reprodução)

Criança brasileira tem dois dedos decepados em escola de Portugal Nívia Estevam, de 27 anos, passou os últimos dias denunciando nas redes sociais que seu filho, José Lucas, de nove anos, teve dois dedos amputados por colegas em uma escola de Portugal. Segundo ela, porém, a repercussão do caso fez com que os pais dos agressores ficassem com raiva. Por receio, ela decidiu deixar a casa onde morava, a cinco minutos da Escola Básica de Fonte Coberta, em Cinfães, no Distrito de Viseu — onde aconteceu o caso — e mudar-se para outra cidade, a aproximadamente uma hora dali. "Meu receio é que lá é uma cidade pequena, como se fosse uma região bem interiorana do Brasil. E as pessoas todas se conhecem. E como os pais dos agressores têm família e amigos na região, eu não sei o que eles podem fazer. Eu não sei a maldade deles", afirmou Nívia. Segundo a mãe, o episódio ocorreu na segunda-feira (10), quando José havia acabado de entrar no banheiro e foi seguido por dois colegas, que teriam fechado a porta sobre seus dedos, pressionando-a até a amputação. Ela relata que o menino tentou abrir a porta, mas não conseguiu devido à dor, e precisou se arrastar para pedir ajuda. A professora da turma, Sara Costa, telefonou para a família dizendo que José “estava brincando” e “amassou o dedo na porta”, o que, segundo Nívia, minimizou a gravidade da situação. O menino passou por uma cirurgia de três horas e perdeu a primeira parte do indicador e do dedo maior (na área da unha, especificamente). "O dedo maior ficará sem unha, e o segundo ficará com apenas a metade", afirmou a mãe. Criança brasileira tem dois dedos decepados em escola de Portugal, diz mãe Arquivo pessoal Desde a agressão, a família de Nívia está temporariamente na casa dos sogros. Ela está dormindo na sala com o marido, João Vitor da Silva, enquanto o filho divide o quarto com a cunhada, Rayssa, de 12 anos. Eles só estão retornando para a casa no Distrito de Viseu para alimentar o gato da família, Shelbinho, de 2 anos. Nos últimos dias, ela decidiu se mudar definitivamente por temer novas represálias. A mudança será feita em um único dia, com apoio de familiares, que irão encaixotar todos os pertences e entregar a chave ao proprietário. Por segurança, Nívia preferiu não informar o novo destino. Sem ajuda do governo, vai com o próprio bolso Após o ocorrido, a família não acionou diretamente a Embaixada do Brasil, mas parentes procuraram órgãos governamentais, que, segundo Nívia, não ofereceram nenhuma ajuda até o momento. Dessa forma, segundo ela, por estar sem ajuda do governo, vai precisar se mudar com o dinheiro que tiver no bolso. Ela está buscando um emprego, assim como seu marido, que precisou largar o posto de soldador em uma obra para cuidar do enteado, José Lucas. Além disso, a família precisará matricular José em outra escola, mas todos temem novos episódios de preconceito. Segundo a mãe, o menino sofreu as agressões por ser brasileiro, preto, gordo e recém-chegado à instituição — este era o primeiro ano letivo dele no local. "Muitas regiões de Portugal são racistas e xenofóbicas", afirmou Nívia. O menino José Lucas, de nove anos, teve dois dedos amputados por colegas em uma escola de Portugal na última segunda-feira (10) Arquivo pessoal Ela informou que, por ora, a única ajuda que recebeu de entidades partiu do hospital, que após a cirurgia de três horas em José, acionou uma assistente social. A profissional notificou a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, responsável por zelar pelos direitos de menores em Portugal. O órgão abriu uma investigação. A assistente social aconselhou a mãe a retirar o menino da escola. “Eles continuam afirmando que aquilo foi uma brincadeira. Se puder mudar de escola e de cidade, faça isso”, disse à família. A mãe também afirmou que procurou a polícia local, mas ouviu deles que se tratava de um acidente, conforme informado pela escola, e que deveria se contentar com essa versão. Ela contou ainda que buscou auxílio na segurança social, mas foi informada de que o atendimento poderia levar de cinco a seis meses. A Direção do Agrupamento de Escolas de Souselo, instituição de ensino que une várias escolas da região, informou que abriu uma investigação interna. O g1 contatou o Itamaraty, a professora Sara Costa, o Ministério Público de Portugal e a polícia local, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem. Página da mãe contando sobre o caso Reprodução/Instagram